Uma viagem a meio do Outono é sempre uma excitação. Uma viagem a meio do Outono para fora do país é uma festa. Uma viagem a meio do Outono para fora do país num voo fácil, barato e rápido é a puta da loucura.
É sempre um prazer voar para um local diferente, mas o prazer diminui bastante quando mais de metade dos passageiros do voo são portugueses… Quando os tugas estão em minoria são bastante mais conscienciosos, tentam não ser tão tugas. Quando atingem um nível, vá… de 40%, sentem-se no seu habitat natural, perdem completamente a vergonha na cara e expressam de forma efusiva e exacerbada as suas tendências mais viscerais e primitivas.
Há 5 comportamentos ritualizados que distinguem o tuga voador em qualquer parte do mundo, por muito que ele até use roupa cara e feche a boca para disfarçar:
- Primeiro, o fenómeno da “Caça ao Lugar “, fenómeno incontornável nos voos low cost, os preferidos do verdadeiro tuga. O tuga mete-se de fininho à frente na fila, atropela a velhinha de andarilho, a mulher grávida e dá cotoveladas nas crianças quando as portas do gate se abrem, corre que nem louco com as malas que conseguiu levar para bordo, via suborno da funcionária do check in, e precipita-se para um lugar à janela que não tenha vista para a asa.
- Segundo, o fenómeno “se-eu-fumar-na-casa-de-banho-sou-muita-esperto-e-ninguém-vai-dar-por-nada”, com a variante “se-eu-abrir-uma-janela-para-fumar-é-na-boa”, resultando em aterragens de emergência pelo caminho para largar o desordeiro… e horas de atraso… sendo este o desfecho mais optimista.
-Terceiro, o fenómeno “bora-lá-todos-bater-palmas-ao-piloto”. É verdade, pessoal que nunca andou de avião… não é uma piada de mau gosto, isso de facto acontece… Só falta começarem a gritar aleluia para ser a IURD.
- Quarto, o fenómeno “o primeiro-a-sair-é-o-maior”, fenómeno com imenso interesse etnológico e filogenético, tendo já originado várias teses de doutoramento quanto às estratégias primitivas residuais que estão na sua origem. Este fenómeno implica que, ainda antes das rodas do avião tocarem no chão, o tuga já esteja com a mão no puxador do compartimento de arrumação, e que no preciso momento em que o avião finalmente cesse o movimento o tuga já esteja com o nariz colado à porta de saída.
- Finalmente, a preocupação do tuga com as regras de segurança e a sua tendência para testar a qualidade e eficácia dos planos de emergência dos aeroportos, através do fenómeno “acender-logo-um-cigarro-mesmo-que-esteja-a-um-metro-de-um-tanque-de-gasolina”, o que faz com que as equipas de emergência aguardem com excitação a chegada dos voos com origem em Portugal.
O que vale é que é sempre um prazer voltar a casa…
