segunda-feira, dezembro 12, 2005

Alegre vs Louçã

(Post muito grande para a média, mas tem de ser)



Alegre 3 – 1 Louçã

Depois de alguns debates a que não pude assistir em directo, tive
a oportunidade de assistir a este.
Alegre teve uma recuperação muito interessante relativamente ao debate com Cavaco. Louçã não é um adversário fácil dado o seu espírito contestatário, mas começa a parecer-se com a loiça já baça e com flores desbotadas da cozinha da minha avó.
Não só evoca em mim a metáfora do disco riscado, como me fustiga com esta imagem mental extremamente irritante de loiça riscada, acompanhada pelo ruído metálico da sua voz a desferir tais riscos.

Ambos estão contra:

- A privatização das empresas públicas fulcrais para o país, como é o caso da Epal e da EDP, e ainda bem, pois não seria preciso muito mais para serem respondidas as preces daqueles que gostariam de ver Portugal a fazer parte de Espanha (preces que até entendo, embora tenha a certeza que essas pessoas não imaginam o que estão a pedir: médicos a limpar os esgotos dos espanhóis, professores a trabalhar em empresas de limpeza, os que fazem neste momentos as limpezas a viver nos esgotos espanhóis, e por aí fora).

- Ambos estão contra a situação da administração das empresas públicas ao bom estilo “republica das bananas”. Ou não fosse um administrador feliz aquele que é nomeado por ser amigo de um partido no governo, aquele que define o seu ordenado, e que já entra a contar 17 anos de serviço para a sua humilde reformazinha.

- Ambos não podem com o Alberto João Jardim (afinal quem é que pode com essa criatura, tirando uns tantos madeirenses enfeitiçados e semi-surdos? Será que ele também dá frigoríficos?) e estarão apenas à espera que ele se descaia para o pôr a andar (de preferência para um sítio em vácuo, uma vez que o som não se propaga, e ainda tem o bónus de o sufocar).

- Ambos concordam que este sistema de justiça já deu o que tinha a dar, que o Procurador Geral da República não pode ser mais um amiguito do governo (para que as investigações de corrupção no governo não acabem na Torre do Tombo sem poderem ser consultadas durante 20 anos, como aconteceu no passado recente da história portuguesa, mas que os políticos corruptos de facto tombem de cima dos poleiros da governação).

- Ambos deixaram de praticar sexo telefónico, e inibiram outros assuntos do foro privado, por causa das escutas, e estão muito preocupados com essa situação. Louçã até já desenvolveu um código para falar de “chocolate” com os amigos.

As grandes diferenças entre os dois:

- Louça acredita que “ninguém pode ser inibido de se candidatar”, que isso seria “totalmente inconstitucional” e que “o povo elege ou não elege”.

Bom, tem-se visto como o povo é criterioso nas pessoas que coloca no poder (veja-se o caso flagrante de belas terras como Felgueiras ou Gondomar). E eu interrogo-me (com um exemplo ainda mais absurdo e extremo): será que Francisco Louçã acharia bem a mãe da “Pequena Joana” como candidata à Presidência da República? E se uns tantos milhares de idiotas assinassem as listas de candidatura? Teria imunidade política? Seria totalmente inconstitucional impedir a amorosa senhora de encabeçar a liderança de um país?
Agora a sério. É inconstitucional impedir criminosos e pessoas sem princípios nem credibilidade (comprovados, não falo de boatos), de serem governantes? Não deveria ser ao contrário? Não deveria haver pré-requisitos para estas funções, ainda mais exigentes do que para qualquer outra profissão ou função na sociedade? Fica a questão. Tenho pena que Alegre se tenha deixado calar com o discurso tecnicista de Louça.

- E no fundo foi esta a grande diferença entre os dois. O tecnicismo estéril.

Louça fez um marketing pela negativa, tentando desacreditar Alegre através de uma triste comparação a Soares (não vê a diferença entre os dois porque deve ter ficado com mais umas dioptrias a ler a auto-biografia de Cavaco, só para ver se o seu nome vem lá).
Quis “roubar” votos socialistas a Alegre e não percebeu que os restantes eleitores não são suplentes.
Em resumo, com o seu discurso teatral de menino-bem-ensaiado-que-tenta-seduzir-e-ter-um-ar-convincente, parecia apenas mais um propagandista de esquerda (versão revolucionária de vendedor de enciclopédias).
Alegre foi humilde, reconheceu as limitações do cargo de P.R. e negou colocar-se no papel de D. Sebastião, o Salvador.
Sem grandes técnicas, sem grandes ânsias, mas com muita honestidade, voltou-se para todos os Portugueses, para os pobres, para os que se sentem “fora da vida”, e são esses que certamente o escutaram atentamente. Ficou-lhe muito bem não tentar “roubar” votos a ninguém.